la regeneración post mortem, por Bárbara Silva (2021) |
"la regeneración post mortem" foi minha primeira colagem. no dia 27 de agosto, senti a necessidade de me expressar de alguma forma diferente da habitual, que é a escrita, então iniciei o processo de tentar produzir colagens. essa foi a primeira que fiz. sentei e fiz. simples assim, foi natural, processual. dei uma olhada em algumas colagens na internet e simplesmente coloquei na página em branco tudo aquilo que eu precisava colocar: as cores, os símbolos, a inspiração foram sendo construídas naturalmente.
a inspiração para essa colagem veio das minhas dores e perdas do ano passado. em 2020, minha avó, a matriarca de minha família, se foi, vítima do câncer. poucos meses depois, minha coelhinha de estimação mais velha, que estava comigo desde minha adolescência, também se foi, vítima da passagem do tempo.
passar por essas perdas fez com que eu repensasse não só minha rotina e minhas prioridades atuais, mas também revisse tudo o que eu tenho como metas e objetivos futuros. eu comecei a me (re)conhecer, eu fiz da morte um momento para renascer, para refletir e para recriar. é a natureza da vida-morte-vida. eu dei um espaço na minha mente e no meu coração para enxergar a morte de uma forma diferente daquela que eu estava acostumada anteriormente. daí a inspiração para a colagem. minhas escolhas não foram premeditadas, porém foram devidamente inspiradas.
o uso das cores fortes, para mim, representam a força da vida, a energia nova retirada sabe-se lá de onde para encarar o mundo. o laranja, principalmente, é a cor que representa a energia. Frida Kahlo, um grande modelo de mulher latino-americana, com garra, que defendia seus ideais e que mais do que ninguém precisou se recriar inúmeras vezes enquanto artista, enquanto ser político e enquanto mulher. a frase escolhida inclusive representa justamente um dos renascimentos de Frida. a borboleta simboliza a regeneração, o renascimento. e la flor de muerto ou cempasúchil (ou os cravos-de-defunto) é o caminho que une a vida e a morte.
mas eu não esperava postá-la nas circunstâncias atuais. no dia 31 de agosto, minha tia, que vivia com minha avó, também veio a falecer. é difícil mensurar a dor que cerca minha família nesse momento. a perda de duas pessoas tão próximas e queridas com pouco mais de um ano separando as duas perdas. é impossível mensurar o caos que a perda de minha avó, de minha coelhinha e de minha tia, em seguida, criaram em meu coração, em minha mente e em minha alma.
hoje é o sétimo dia da morte de minha tia e, mais uma vez, me vejo buscando o renascimento e a regeneração post mortem. ainda dói, muito, contudo eu sei o ressurgimento é possível e ele nos ensina o que deve, verdadeiramente, ser priorizado e nos mostra aquilo que realmente importa.
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