Pular para o conteúdo principal

Uma reflexão sobre presença

Enquanto aguardo minha reunião de trabalho, tomo um delicioso e aconchegante chá de guaco com gengibre e mel. É impressionante como momentos que antes eu não valorizava tanto passaram a ser tão importantes para mim nos últimos meses. Estar presente tem sido cada vez mais necessário para mim. Estar presente de verdade. Perceber o ar inflando meus pulmões, sentir a água ou o chá umedecendo minha língua e escorregando pelo meu esôfago e hidratando cada célula do meu corpo são atenções que até então eu não tinha.

Perder entes queridos e, ao mesmo tempo, não poder ter contato com aqueles que continuam vivos é doloroso e faz a gente perceber o que de fato importa. Por isso, tenho tido a delicadeza e a necessidade de, ao estar presente, me comprometer em estar ali de corpo, mente, alma e coração.

A tecnologia tem nos permitido um mínimo contato com as pessoas queridas, tem nos permitido também manter nossos trabalhos e atividades de forma remota, mas, ao mesmo tempo, ela tem nos distanciado das pessoas que de fato importam, daquelas que estão ali do nosso lado todos os dias... Quanto mais entocados estamos, mais tal tecnologia nos faz falta; mas é ela que também nos esgota, nos fragiliza e nos adoece. Digo, por mim, é claro; só que é exatamente assim que tenho me sentido.

Não me entendam mal, eu gosto de estar online, só que tenho me incomodado profundamente com o fato de sempre estar. Não há fuga, não há escape. Não importa o quanto eu desconecte meu celular. Em algum momento, vou precisar reconectá-lo de alguma forma e tudo aquilo do que eu tentei escapar será liberado em forma de avalanche. 

Ainda não sei o que é melhor: me afogar em meio ao excesso de informações ou garantir minha pequena dose homeopática todos os dias.

Sei que estou cansada e que todos estão, por isso esse texto-desabafo. Venho tentando usar (fora momentos de trabalho, claro) a internet de forma racional e me readaptar à forma com que eu a usava quando era criança e só tinha acesso em alguns momentos específicos - um dos motivos pelos quais voltei ao blog - para não ser asfixiada por tudo o que está disponível por aí. Além disso, tenho me esforçado para ser consciente na minha própria presença em minha vida. Comecei até a escrever um "diário".

Enfim, a tentativa real de me fazer presente e de ter meus momentos de fuga é o que tem me permitido viver.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Medo do mar

Desde criança, sempre tive medo do mar. Toda vez que minha família decidia viajar para uma cidade com praia, eu ficava desesperada. Ninguém nunca entendeu, afinal que criança não gosta do mar? Brincar na areia, tudo bem, mas entrar na água me deixava um pouco em pânico. Quando chegava na praia, todos os meus primos iam para a água correndo e eu ficava lá na areia, sentada, observando tudo e construindo e destruindo meus castelos de areia, que mais pareciam uma metáfora de como eu me sentia com relação ao mar, quando eu o construía, representava minha coragem em ir até a água, mas era só a água molhá-lo um pouquinho e a coragem desmoronava. Ao chegar na adolescência, desisti de ir à praia, afinal, o que eu faria lá? Mas a família nunca entende, então tive que ir muitas vezes ainda. Ficava sentada, embaixo de uma sombrinha, lendo um livro qualquer ou então colocava várias músicas no MP3 e fazia dos fones meus melhores amigos. Depois de um mês de férias na praia, decidi que teria qu

Quando é pra ser...

Sempre li muitos contos de fadas e acreditava que a vida poderia ser como eles. Mas estava enganada. A vida não é tão simples como estas histórias. Os livros que li falavam de amor como se fosse um sentimento qualquer, como tristeza e agonia. Mas o Amor não devia ser tratado desta forma, afinal talvez fosse o sentimento mais complexo e profundo que qualquer ser, humano ou não, pode sentir. Achei que, quando encontrasse o amor da minha vida, seria simples como Cinderela ou Rapunzel, mas a vida não é tão fácil assim, não é mesmo? Então encontrei você. Era óbvio que era o amor da minha vida, afinal era o melhor amigo que eu poderia escolher, a melhor pessoa para dividir histórias, risadas, brigadeiros e, até mesmo, as dolorosas lágrimas, que insistiam tanto em cair de meus olhos. Me deixei levar pelas histórias e gostos parecidos, pelo seu sorriso e sua covinha, maldita covinha! E você, aparentemente, se deixou levar também, apesar de saber que estávamos em momentos tão distintos

Carta a 2015

Juiz de Fora, 31 de dezembro de 2015. Caro ano que chega ao fim, sei que muitos andam por aí dando graças a todas as divindades por você estar indo embora. Mas aqui estou para agradecer-lhe por cada mês, semana, dia, hora, minuto, segundo e milésimo de segundo... Não, não foi um ano fácil, daqueles que consideramos perfeitos, mas foi um ano de metamorfoses, transformações, começos e REcomeços. Quero agradecer por cada um dos aprendizados trazidos em meio a tantas tribulações. O ano começou e, logo de cara, me trouxe a tão esperada novidade: uma vaga em uma universidade federal! Pouco depois, um emprego bateu em minha porta. E foi a partir daí que decidi que não me relacionaria com ninguém, não criaria nenhum laço afetivo, pois as minhas vidas acadêmica e profissional deveriam vir em primeiro lugar e eu não teria tempo para dividi-las com mais ninguém além dos meus familiares e amigos. Projetos acadêmicos, profissionais e pessoais foram surgindo, e minha vida ficou mais atarefada