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Um manifesto em favor dos sebos


Nunca tinha parado para pensar há quanto tempo frequento livrarias. Lembro de, na infância, ir à biblioteca municipal e pegar alguns livros. Só que de começar a ir às livrarias, eu não me lembro.

Mas é engraçado, porque, ao mesmo tempo, tenho muitas recordações da minha mãe me dando gibis da turma da Mônica quando eu era mais nova. Lembro inclusive da livraria em que ela comprava.


Quando me tornei adolescente, lembro da minha mãe dizendo que ia comprar meus livros da escola num “sebo”. Mas que diabos é isso?! Foi quando ela me disse que era uma livraria que vendia livros usados. E, na verdade, era exatamente a mesma livraria que ela comprava aqueles meus gibis que eu gostava tanto.


Sempre soube que meus gibis e meus livros eram usados, mas nunca soube que as livrarias que vendiam livros de segunda mão tinham outro nome.


Hoje, posso dizer que sou super adepta dos sebos. Uma seguidora incontestável. A maior parte dos meus livros são usados, até porque eu decidi ser classicista, né? 


Antes da pandemia, eu frequentava assiduamente os sebos. Passava para ver o que tinha chegado. E não é só por causa dos livros, compro CDs, DVDs e LPs em sebo também (sim, eu sou adepta a tecnologias antigas também). Hoje, não tenho ido, mas, por sorte, meu namorado trabalha em um, hahaha.

E, na verdade, eu comecei esse blábláblá todo sobre sebos, porque, a cada dia, tem sido mais forte a romantização que as novas gerações têm feito sobre lojas de vinil e/ou pequenas livrarias. Isso tem acontecido há um tempo por causa da alta que alguns filmes e séries do final do século passado têm vivido (Alô, “Alta fidelidade” e “Gilmore Girls”!). 


E não é uma crítica, eu também sou fissurada nesses filmes e séries, até porque sou uma boa e nostálgica millenial. E a verdade é que a maioria das pessoas que cria essa romantização nem se dá conta quando pequenas livrarias e sebos, que têm exatamente essa configuração que passa nas telas, fecham por falta de clientes. Até mesmo porque é bacana tudo isso na televisão ou no cinema, mas, pra ter em casa, é melhor comprar um livro com cheirinho de novo, né? Assim, ele fica na estante intocado e santificado.


E tá tudo bem, eu continuo romantizando cenas de pessoas que se apaixonam em lojas de livros e vinis na minha cabeça. E, no fim das contas, quem se importa com a família que tem um sebo na sua própria cidade e vai fechar graças ao efeito Amazon? Eu não me importo com a romantização cinematográfica que as produções televisivas geram, mas saber que vivemos em um país que consome pouca literatura por causa do preço e dos baixos salários e que existem lojas que revendem livros e outros materiais usados, com um preço acessível, que correm o risco de fechar por falta de cliente enquanto essas mesmas gerações romantizam a ideia do sebo que vende em filmes e séries me incomoda profundamente. A conta não fecha. Livros, CDs, DVDs, LPs contam histórias e, quando vêm de uma livraria pequena e são de segunda mão, eles contam mais histórias ainda.

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