Nunca fui de falar abertamente sobre meus sentimentos por aqui, não de maneira tão direta, pelo menos. Mas, nos últimos tempos, tenho tido uma sensação que não passa... Uma sensação de não pertencimento, que sei que, constantemente, faz com que as pessoas não se sintam confortáveis onde estão ou com quem estão.
Só que, andando por aí e rolando as redes sociais, é possível perceber que não sou a única a ser assombrada pelo espectro do não-lugar. Aparentemente, grande parte da minha geração está passando pela mesmíssima situação. E, por isso, estou aqui, sentada em uma cadeira giratória, com o notebook aberto e um fone enorme tocando uma playlist chamada "Lane Kim's Music Library" - claramente feita por alguém que tem experienciado o mesmo sentimento que eu - num daqueles streamings de músicas.
A verdade é que parece que a geração 90s está enfrentando uma crise de pertencimento... Nosso caráter foi moldado em um período que, para conseguir se conectar à internet, muitas vezes, precisávamos esperar dar 00h numa sexta-feira. A conexão por si só podia demorar de 20 a 30 minutos para ser estabelecida. Agora, entretanto, parece que ficamos preso num vórtice de espaço-tempo em que nunca conseguimos desconectar. Para assistir a um filme, não passaria jamais, pelos nossos sonhos mais incríveis, a ideia de pagar uma "locadora" virtual mensalmente e, assim, ter todos os filmes disponíveis em nossa televisão. Se quiséssemos novidades, precisávamos de uma ficha cadastral e de uma relação profunda e sincera de amizade com o dono ou o atendente do lugar para que, quando os lançamentos chegassem, ele ligasse (sim, ligasse para o telefone fixo de nossas casas) e, dessa forma, pudéssemos ser os primeiros a alugar aquele filme por um fim de semana inteiro e entregar só na segunda-feira. E, por mais que eu ame a possibilidade de virar mais de um dia assistindo a todos os filmes e séries possíveis, eu sinto muita falta das locadoras. Uau, como eu amava locadoras! Sem dúvidas, para mim, eram o melhor lugar do mundo.
Havia mais espaço no mundo, mais distância, mais tempo, mais expectativa. Não éramos bombardeados com notícias e imagens de coisas supérfluas e desnecessárias. Quando líamos sobre a vida de alguém ou sobre moda e "lifestyle", era porque queríamos. Nós tínhamos a garantia do nosso livre arbítrio. Escolhíamos seguir o blog X e Y, e as postagens deles eram enumeradas de maneira cronológica para não perdermos nossas leituras; comprávamos ou assinávamos revistas; trocávamos figurinhas, adesivos, folhas de cartas e fichário... Escrevíamos diários e blogs como ninguém; e os comentários dos leitores nesses primórdios de "redes sociais" eram de fato construtivos, não só um elogio ou crítica sobre a roupa ou o cabelo de alguém em uma foto. Conversávamos, debatíamos, realmente líamos aquilo que o outro estava falando. Não eram apenas emojis para todos os lados; havia diálogo.
A saga de ser millenial atualmente faz parecer que caímos num abismo de não saber exatamente quem se é ou que se quer. Ao contrário de gerações anteriores, os millenials já tinham um certo contato com a tecnologia, então tentamos a todo tempo ser uma geração "antenada", passar por alguém que não está atualizado não parecia ser uma opção pra gente. Por isso, começamos a nos ver perdidos, afinal não somos a geração Z, extremamente tecnológica desde o nascimento, mas também não somos a geração X, que não precisou passar por uma cobrança intensa com relação a esse acesso e domínio das tecnologias atuais.
Ficar offline, atualmente, é quase impossível e a gente oscila entre trabalhos e redes sociais para conversar com os amigos - principalmente nesse momento de pandemia. Mas não é o que queremos; foi legal no começo, mas já nos saturou. Nós sentimos falta dos blogs, dos diários, das locadoras e de, sim, ter acesso à tecnologia, mas em doses homeopáticas...
E, por isso, cá estou, nesse blog ressuscitado, ouvindo uma playlist de uma série - que eu vivo reassistindo - lançada há 20 anos, que, sim, as músicas estão num streaming, mas eu estou, cautelosamente, anotando à mão num caderninho quais bandas, dentre as que estão na lista, eu quero ouvir depois com calma em LP e CD.
CARACA! Que texto! Acho que é bem isso! Tanto que venho compartilhando coisas similares também no meu blog. E é isso: eu tô morrendo de saudade de uma locadora, por favor, pra ontem. Amo a netflix... mas ir ao cinema com aquela máquina gigante rolando no fundo ou ir à locadora pegar 10 filmes por 10 reais, era... vida. Ter álbuns, compartilhar folhas e figurinhas, fazer cadernos de colagens... que lembrança boa.
ResponderExcluirQue bom que gostou e se sentiu representada pelo texto. Tenho visto, constantemente, que a nossa geração tem se sentido aflita e eu estou 200% dentro do barco de pessoas que se sentem meio perdidas e fora de contexto atualmente. Espero que consigamos achar o nosso lugar em algum momento e que não demore muito.
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