Pular para o conteúdo principal

"I'll never be good enough"

Parecia ser um dia de férias normal para mim. Acordei, estava nublado, talvez chovesse mais tarde... Peguei meu café e decidi que iria arrumar meus antigos CDs e DVDs. Era estranho estar no quarto que eu dormi grande parte da minha vida, mas, ao mesmo tempo, me trazia lembranças boas de quando eu morava aqui na casa dos meus pais. E eu devia ir me acostumando de novo, afinal tinha acabado de voltar para o Brasil. Abri a última gaveta da minha cômoda e lá estavam eles. Tirei todos, comecei a passar um pano úmido para tirar a poeira e resolvi ouvir alguns daqueles CDs.
Peguei aquele velho discman da minha mãe que, creia ou não, ainda funciona, e fui colocando alguns CDs. The Wall, A Night at the Opera, Pump, Help!, Stadium Arcadium e alguns mais novos. Até que cheguei no meu melhor amigo da adolescência, Light me Up, The Pretty Reckless, 2010. Não sabia há quantos anos não ouvia essa banda. Coloquei para ouvir... até que chegou naquela música, a nossa música. Era engraçado dizer "nossa música", já que "Make me Wanna Die" não é uma das músicas mais românticas que existe. Mas trazia tantas lembranças...
Quando ela começou a tocar, me doeu profundamente. Lembrei do dia em que nos conhecemos. Eu vestida com minha camiseta cinza, calça preta e um All Star inseparável, com minhas amigas naquele pub mal iluminado, mal cheiroso e com excesso de fumaça. Lembro de ter ido para o palco, participar do tal karaokê e escolher cantar exatamente essa música.
Quando desci do palco, você me olhou e veio falar comigo. Era o cara mais lindo e mal arrumado do bar. Começamos a conversar, nos beijamos e meses depois estávamos namorando. Eu tinha certeza que você era o amor da minha vida. Mas o ensino médio acabou e eu fui estudar música nos Estados Unidos. 
Olhando agora, percebo que fiquei cinco anos morando fora e, por mais que saísse com alguns caras, nunca me interessei de verdade por eles, nunca cogitei namorar com nenhum deles e, todas as vezes que eu ia em algum bar ou festa, era como se você fosse aparecer. Sonhos idiotas de uma garota que cresceu assistindo aos filmes de princesa da Disney, eu sei...
Acabei de arrumar as coisas no meu quarto por volta de 18h, fui tomar meu banho e decidi ir ver aquele tal pub que nos conhecemos. Me traria boas lembranças, eu não tinha dúvidas disso. Coloquei um vestido preto que você tinha me dado no meu aniversário de 18 anos. Cinco anos depois e ele ainda me servia. Calcei minhas botas, soltei o cabelo e fiz uma maquiagem leve.
Fui andando até o bar, sozinha mesmo. Não tive coragem de contar para minha mãe aonde iria e, muito menos, de chamar alguma das minhas amigas, que provavelmente me julgariam, afinal de contas fui eu quem terminou, eu que disse que não queria estudar música aqui e nem queria que você fosse comigo, por mais que insistisse. Na época, eu achava que não daria certo e tinha medo de que você abandonasse a sua vida por minha causa. Então, optei por abandonar você.
Vi a porta do pub, respirei fundo e entrei. Era exatamente como eu me lembrava, parecia que eu estava em 2010 e que nada nunca tinha mudado. Sentei e pedi um drink. Tomei enquanto ouvia o pessoal cantando no karaokê. Depois do meu terceiro drink, levantei e fui em direção ao karaokê. Pedi para colocarem "Make me Wanna Die" e, a cada "I'll never be good enough", uma lágrima caía dos meus olhos. A música acabou, as pessoas aplaudiram. Fui ao banheiro, chorei mais um pouco, sequei minhas lágrimas e fui para perto do balcão mais uma vez.
Pedi uma dose de Johnnie Walker. A cada gole, um aperto no coração... era tudo tão igual a 2010, nada parecia ter mudado ali, exceto pelo fato de que, quando desci do palco, não tinha você esperando para me beijar e me chamando de "minha pequena vampira". Respirei fundo para não cair no choro outra vez, quando ouvi uma voz, grave, baixa, macia e conhecida, chamar meu nome. Eu devia estar muito bêbada, porque jurava que podia ser... então me virei e dei de cara com... você!
Quando vi seu sorriso, tive certeza de que não era alucinação, pois toda vez que eu via você na minha mente, só conseguia lembrar da cara de decepção e desespero que você me olhou quando eu disse que queria terminar. Você veio em minha direção, pegou a minha mão e eu só conseguia murmurar "me desculpa, me desculpa, eu nunca esqueci você, você é o amor da minha vida, a blue moon on the rise".
Você segurou meu rosto, secou minhas lágrimas e não disse nada. Apenas inclinou seu rosto até que seus lábios fossem capaz de tocar os meus. Aquele foi, com certeza, o momento mais feliz da minha vida. Ainda bem que resolvi vasculhar meus antigos CDs...

*Declaro, para fins de direitos autorais, que a imagem não pertence ao blog*

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Medo do mar

Desde criança, sempre tive medo do mar. Toda vez que minha família decidia viajar para uma cidade com praia, eu ficava desesperada. Ninguém nunca entendeu, afinal que criança não gosta do mar? Brincar na areia, tudo bem, mas entrar na água me deixava um pouco em pânico. Quando chegava na praia, todos os meus primos iam para a água correndo e eu ficava lá na areia, sentada, observando tudo e construindo e destruindo meus castelos de areia, que mais pareciam uma metáfora de como eu me sentia com relação ao mar, quando eu o construía, representava minha coragem em ir até a água, mas era só a água molhá-lo um pouquinho e a coragem desmoronava. Ao chegar na adolescência, desisti de ir à praia, afinal, o que eu faria lá? Mas a família nunca entende, então tive que ir muitas vezes ainda. Ficava sentada, embaixo de uma sombrinha, lendo um livro qualquer ou então colocava várias músicas no MP3 e fazia dos fones meus melhores amigos. Depois de um mês de férias na praia, decidi que teria qu

Quando é pra ser...

Sempre li muitos contos de fadas e acreditava que a vida poderia ser como eles. Mas estava enganada. A vida não é tão simples como estas histórias. Os livros que li falavam de amor como se fosse um sentimento qualquer, como tristeza e agonia. Mas o Amor não devia ser tratado desta forma, afinal talvez fosse o sentimento mais complexo e profundo que qualquer ser, humano ou não, pode sentir. Achei que, quando encontrasse o amor da minha vida, seria simples como Cinderela ou Rapunzel, mas a vida não é tão fácil assim, não é mesmo? Então encontrei você. Era óbvio que era o amor da minha vida, afinal era o melhor amigo que eu poderia escolher, a melhor pessoa para dividir histórias, risadas, brigadeiros e, até mesmo, as dolorosas lágrimas, que insistiam tanto em cair de meus olhos. Me deixei levar pelas histórias e gostos parecidos, pelo seu sorriso e sua covinha, maldita covinha! E você, aparentemente, se deixou levar também, apesar de saber que estávamos em momentos tão distintos

Carta a 2015

Juiz de Fora, 31 de dezembro de 2015. Caro ano que chega ao fim, sei que muitos andam por aí dando graças a todas as divindades por você estar indo embora. Mas aqui estou para agradecer-lhe por cada mês, semana, dia, hora, minuto, segundo e milésimo de segundo... Não, não foi um ano fácil, daqueles que consideramos perfeitos, mas foi um ano de metamorfoses, transformações, começos e REcomeços. Quero agradecer por cada um dos aprendizados trazidos em meio a tantas tribulações. O ano começou e, logo de cara, me trouxe a tão esperada novidade: uma vaga em uma universidade federal! Pouco depois, um emprego bateu em minha porta. E foi a partir daí que decidi que não me relacionaria com ninguém, não criaria nenhum laço afetivo, pois as minhas vidas acadêmica e profissional deveriam vir em primeiro lugar e eu não teria tempo para dividi-las com mais ninguém além dos meus familiares e amigos. Projetos acadêmicos, profissionais e pessoais foram surgindo, e minha vida ficou mais atarefada