Sentada de frente para minha escrivaninha ou aquilo que hoje as pessoas tendem a chamar de "home office", notebook aberto, me pego olhando um velho caderninho, jogado numa das prateleiras. Estico o braço e pego aquele caderno, abro-o e começo a folhear. Ali estavam várias coisas que outrora eu escrevera. Poemas, mini-contos, crônicas, opiniões, viagens... Comecei a ler e, por incrível que pareça, me lembrei da cada uma das situações nas quais eu havia escrito aquelas coisas.
Aquele caderno, um dia, tinha sido meu melhor amigo, meu companheiro inseparável, meu Sancho, como eu carinhosamente o chamava na adolescência. Em todos os lugares que eu ia, ele ia junto. Fosse a viagem mais fantástica que eu tinha feito ou, simplesmente, a ida para a escola.
Eu gostava de observar a tudo e a todos e tudo aquilo que eu achava interessante, anotava no caderninho e, assim que chegasse num lugar mais tranquilo, punha-me a escrever e inventar histórias sobre aquilo.
Era maravilhoso... poder criar, inventar e viver histórias diferentes todos os dias! Era viver uma eterna viagem entre cidades, continentes e, até mesmo, mundos!
Era maravilhoso... poder criar, inventar e viver histórias diferentes todos os dias! Era viver uma eterna viagem entre cidades, continentes e, até mesmo, mundos!
Uma ida a um bosque, poderia fazer com que eu me tornasse uma jovem bruxa inglesa. Uma ida a escola, passando perto de um hotel muito antigo, fazia-me ser uma jovem moça vinda do interior e que conhecia sua alma gêmea passeando pela praça. Narrava uma viagem que tinha feito com minha família, como a melhor do mundo...
Estava na hora de focar na faculdade, estudar, me formar, fazer mestrado, doutorado e, se possível, pós-doutorado, para ser uma grande profissional.
Guardei meu caderninho de memórias, sorri, balancei a cabeça, para, mais uma vez, apagar aquele sonho bobo de criança e comecei a digitar minha próxima publicação para uma revista qualis A1. Afinal, se eu não publicar, nem encher meu Lattes, eu não tenho como ser feliz, né?!
Cada dia eu escrevia uma coisa, cada dia eu via uma coisa, cada dia eu era uma coisa.
Ser escritora devia ser maravilhoso!
Depois de uma certa idade, os rascunhos começaram a falar mais sobre mim mesma, eram mais focados em sentimentos, experiências e viagens reais. Quase que narrações pessoais sobre a minha vida. Mas, mesmo assim, era maravilhoso. Sempre que eu escrevia, me sentia leve, calma. E, mesmo sabendo que ninguém leria aquilo, eu escrevia para mim mesma, para reler e lembrar de cada fase que eu já havia passado. Escrever, para mim, era um sonho e, ao mesmo tempo, um alívio.
Os anos foram passando e eu já não levava mais aquele caderninho para todos os lugares, apenas para coisas muito especiais e escrevia bem menos do que antes, já era hora de escolher uma profissão e me dedicar a isso. Depois de um tempo, aquele caderninho se tornou apenas uma lembrança de um sonho infantil e, por isso, foi guardado na estante.
Ser escritora e viajar o mundo... que ideias bobas eu tinha na cabeça!
Estava na hora de focar na faculdade, estudar, me formar, fazer mestrado, doutorado e, se possível, pós-doutorado, para ser uma grande profissional.
E, agora, estou aqui, muito bem, obrigada, olhando para o Word, sem ideia do que escrever para o meu décimo artigo. Tenho escrito bastante, mas nada daquilo que eu sonhava.
Viajar o mundo? Quem sabe quando eu me aposentar, né?!
Guardei meu caderninho de memórias, sorri, balancei a cabeça, para, mais uma vez, apagar aquele sonho bobo de criança e comecei a digitar minha próxima publicação para uma revista qualis A1. Afinal, se eu não publicar, nem encher meu Lattes, eu não tenho como ser feliz, né?!
*Declaro, para fins de direitos autorais, que a imagem não pertence ao blog*
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