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Tempus Fugit

Entre um café e outro paro para pensar... algo já está errado bem aí, no começo do pensamento. Quantos cafés tomo por dia? Não sei. A gastrite, adquirida no terceiro período da faculdade, agradece.
Pego a xícara de café, despejo na pia. Dentro do armário, pego o bule da minha avó, guardado há tantos anos, e preparo um chá de camomila. Assim que fica pronto, pego uma xícara e sento na escada da varanda, observando os carros que passam.
Não moro numa cidade grande, mas vivemos como se fosse.
Sentada ali, entre os goles do meu chá sem açúcar, me pego pensando sobre minha vida, pessoal, acadêmica, profissional...
Sempre quis ser escritora, viajar o mundo e escrever sobre ele, sobre pessoas, histórias, aventuras... E até que escrevo razoavelmente bem, obrigada. Mas, desde que comecei a fazer minha tão sonhada faculdade, não tenho mais criatividade, nem tempo, nem mesmo vontade para sentar num canto e escrever. A intenção de estar matriculada numa faculdade era adquirir conhecimento, participar de trocas de saberes, não somente dentro da sala de aula, e, a cada dia, me tornar uma pessoa mais criativa, com novos pensamentos e arcabouço teórico para poder desenvolver mais e mais minha habilidade de escrita...
Tomo mais um gole do meu chá e me sinto frustrada. Observo carros passando em alta velocidade, pessoas andando desesperadas e falando em seus telefones sem, nem ao menos, perceber duas maritacas namorando em cima de um lindo ipê amarelo, que estava repleto de flores.
Claro que adquiri muita coisa que eu não tinha até então, conheci pessoas maravilhosas e descobri coisas sobre o mundo que jamais imaginaria saber. Mas também adquiri gastrite, ansiedade, falta de tempo, nervosismo, entre outras coisas que não deveriam fazer parte de tudo o que o mundo acadêmico nos proporciona.
Olhei o relógio, dez pras cinco, era hora de ir para a faculdade. Mas eu não estava disposta, meu chá ainda nem tinha acabado. Optei por continuar sentada na escada de casa. 
Minha vida parecia perfeita. 23 anos, prestes a me formar, namorando, pré-projeto de mestrado pronto... Mas a vontade de ser escritora, de conhecer o mundo e vivê-lo continua latente dentro de mim.
Minha geração é uma geração que, de tanto correr, vive aflita. Dormimos pouco (e mal, graças a insônia causada pela ansiedade), comemos mal, afinal de contas, temos 15 minutos de intervalo para o almoço, estamos preocupados demais em mostrar no instagram o quanto somos felizes e, com isso, perdemos grande parte do tempo em que deveríamos estar aproveitando com as pessoas que amamos, gastamos nossos feriados e fins de semana montando apresentações de trabalhos e voltamos na segunda com mais olheiras do que estávamos antes da "folga". Vivemos correndo de um lado para o outro como se nossa vida dependesse daquilo e, na realidade, nem sabemos o que estamos fazendo com a nossa vida.
Minha xícara se esvaziara, mas meu cérebro ainda estava sendo bombardeado por pensamentos e aflições. Lembrei de uma entrevista que eu vira há pouco com o homem mais velho da minha cidade, 108 anos de pura sabedoria. Ele foi indagado pelo entrevistador sobre qual era o segredo para viver tanto tempo e ser tão saudável. E, pegando um pandeiro, ele respondeu que o segredo para viver bem, é viver "devagar, é devagar, é devagar, é devagar, é devagarinho"
Enquanto isso, minha geração está tão preocupada e correndo tanto para conseguir um futuro "promissor", que adoece, que sofre todos os dias e não sabe explicar o motivo, que vive mal. Vive mal? Não! Não vive, sobrevive.
Uma geração que não faz mais nada daquilo que realmente gosta, porque está sem tempo. Mas quando será que teremos tempo?
A vida é curta e o tempo voa...

*Declaro, para fins de direitos autorais, que a imagem não pertence ao blog*

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