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Noites de Batom Vermelho e Diamantes

Prazer, sou Amélie e estou completando 70 anos neste exato momento.
Vocês podem se perguntar "uma mulher chamada Amélie em pleno Brasil?", é que, na realidade, não nasci aqui. Sou natural de Paris... É, a capital boêmia da revolução "liberté égalité fraternité".
Nem sempre fui essa senhora de idade que vive numa cidadezinha no interior de um país tropical. Já fui uma linda jovem deslumbrada com a vida europeia. Parecia realmente um conto de fadas viver na França. Andar pela Champs-Elysées com enormes sacolas de roupas e sapatos era magnífico!
Mas, um dia, toda jovem se torna mulher e deve sair de casa para casar. Só que eu não queria casar, então logo arranjei um emprego, recepcionista de um escritório de advocacia qualquer, juntei dinheiro, comprei um apartamento e um carro, me tornei independente e, finalmente, estava livre das cobranças de um pai machista. Visitava minha família aos domingos para o almoço e minha mãe sempre passava na minha casa durante a semana, mas meu pai se recusava a acompanhá-la ao meu "bordel particular", porque filha dele "devia sair de casa para o seio de um lar no qual iria cuidar de seu marido e filhos".
Nunca quis ter filhos. Ou talvez quisesse, mas essa cobrança do meu pai me irritava sempre.
Quando completei 25 anos decidi que passaria meu aniversário no lugar que mais me deslumbrava na França, o Moulin Rouge... (quando meu pai descobrisse, seria capaz de me deserdar, mas isso era o que menos me importava)
Fui visitar o tal cabaret. Chegando lá, sentei-me e pedi o "Soirée Toulouse-Lautrec". "C'est magnifique!" ou, como diriam aqui no Brasil, era tudo do bom e do  melhor! Após algumas taças de champagne, um homem, elegante e belo sentou-se ao meu lado e disse "uma dama como a senhorita não deveria ficar sozinha". Seu nome era Pierre.
Conversamos por horas, bebemos muitas garrafas de champagne (as quais ele pagou, diga-se de passagem). Depois de um tempo, ele me contou que era um dos organizadores do show e que adoraria se eu aceitasse ser dançarina no Mouling Rouge.
Meu primeiro pensamento foi "ser uma cortesã? O que todos pensariam?" e o segundo foi "Danem-se todos!" e, assim, aceitei o emprego.
Ao invés de ser uma recepcionista medíocre de um estabelecimento qualquer, me tornei a dançarina principal de um bordel em um dos melhores bairros de Paris ou, quiçá, do mundo!
Apresentava-me todas as noites, me tornei o diamante das apresentações, as músicas principais eram todas minhas, ganhava dinheiro, jantares, diamantes e dormia com os homens mais requisitados da Europa.
Mas, por um erro no percurso, uma certa noite, acabei me deitando com Pierre. E, depois disso, percebemos o quanto estávamos apaixonados. Só que ninguém, além de nós dois, poderia saber disso.
Vivemos por anos dessa forma, até que Jean, o então dono do estabelecimento, descobriu. E, bom, era com ele que eu dormia todas as noites, ele era meu, se é que posso definir dessa forma, "marido".
Jean mandou seus capangas, seguranças do bordel, matarem Pierre.
Quanto a mim, restou-me ir embora do Moulin Rouge. E da França.
E por esse motivo, amar, que aqui é onde fecharei as cortinas do meu show em meu bordel particular; sem o meu emprego dos sonhos e, principalmente, sem o amor da minha vida.
Há algum tempo, produziram um filme chamado "Moulin Rouge", a história dele é muito semelhante ao que ocorreu (e, talvez, ocorra até hoje) naquele velho moinho de Mountmartre.
Lá não importa nada além do dinheiro, nem mesmo o amor. A base da história do sucesso do Moulin Rouge é o antigo bordão "o show deve continuar".
E, caso você descubra o verdadeiro sentido da vida e consiga retirar sua essência, você é simplesmente descartado, como um objeto qualquer.
Mas isso não importa, como diriam os personagens do tal filme, "a coisa mais importante que se pode aprender na vida é amar, e, em troca, amado ser".


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