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A gente chegou um dia a acreditar que tudo era pra sempre...

Quando estamos juntos com alguém, começamos a criar um universo paralelo no qual só os dois habitam, criamos uma realidade que, para os dois, seria a história de vida perfeita.
Depois de anos morando com a mesma pessoa, cria-se um sentimento de dependência fora do normal. É como se sua vida não fizesse sentido caso essa pessoa não estivesse contigo. As coisas comuns perdem a graça, porque no fim do dia você não vai poder compartilhá-las com quem gostaria.
Quando resolve-se morar junto com outra pessoa, a intenção inicial é de que seja para sempre, afinal, se não fosse, por que moraríamos juntos? O problema é que nem sempre é, pois, muitas vezes, quando se mora junto é por causa de uma viagem, um intercâmbio, uma viagem rápida com a pessoa, entre outros motivos, sendo todos passageiros. E, sendo esse o caso, pode preparar-se, pois o fim chega rápido, até demais.
Digo isto por experiência própria... uma vez, fiz intercâmbio para a França e dividi um apartamento com um amigo (até então, era isso). Moramos um ano juntos, fazíamos tudo juntos, com exceção ao banho. E, então, as pessoas começaram a nos tratar como se fôssemos namorados, mas, até aí, não existia nada entre nós (já tínhamos ficado algumas vezes, é verdade, mas isso é normal quando se tem 15 anos. Agora, com 18, não era tão simples assim).
Depois de alguns meses morando juntos, fomos a uma festa e acabei ficando com um garoto, um dos nossos amigos franceses. Quando chegamos em casa, aconteceu algo que eu jamais esperaria... uma discussão. Discussão? Não, era mais uma briga mesmo. Uma confusão gigantesca, uma crise, um terremoto na nossa amizade. E, pela primeira vez, percebi que aquilo podia ser ciúmes. Mas... Será?
Podia ser apenas impressão minha, talvez fosse prepotência demais achar que havia um certo interesse na nossa relação de amizade. Afinal, amigos também sentem ciúmes, né? Mas, depois daquilo, nossa amizade jamais foi a mesma, porque não sabíamos bem o que aquilo significava.
Depois de mais alguns meses morando em Paris, fomos a outra festa e, depois de alguns vinhos e cervejas, aconteceu um tipo de declaração, se é que posso chamar assim. Daquele dia em diante, ficamos juntos, realmente JUNTOS, no sentido mais profundo que essa palavra pode assumir.
Mas nem tudo são flores e, assim, terminou nosso intercâmbio e já era hora de voltar ao nosso país de origem, querido Brasil. Nenhum dos dois queríamos e isso sim era bizarro, já que ambos sempre tínhamos sido nacionalistas e amávamos o país. O problema era as consequências que isso acarretava, voltar ao Brasil significava voltar a morar separados e só nos vermos aos fins de semana. Não sabíamos mais como era isso e como sobreviveríamos.
Quando desembarcamos do avião, aconteceu a primeira separação: ele foi encontrar a família dele e eu fui para a minha. Depois disso, toda semana, é exatamente isso o que acontece todo domingo a noite: temos que voltar para a merda da realidade, longe um do outro.
Já devíamos estar acostumados, mas, a cada vez que isso acontece, sofremos da mesma forma, é como se arrancassem uma parte de mim, é como se tirassem o meu equilíbrio, como se tirassem o oxigênio presente no ar... A pior parte disso é ficar revivendo essas lembranças, em casa, trancada no quarto, ouvindo a Cássia Eller cantar "mas nada vai conseguir mudar o que ficou, quando penso alguém só penso em você e, aí então, estamos bem. Mesmo com tantos motivos pra deixar tudo como está, nem desistir nem tentar, agora, tanto faz. Estamos indo de volta pra casa..." e perceber que isso retrata, exatamente, cada momento das nossas vidas.

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