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I'll go back to black

O engraçado em ser a filha exemplar, atenciosa, responsável e todos os outros atributos que recebemos, é que ninguém percebe o que você realmente sente ao sorrir e dizer "Estou ótima. Na correria, mas ótima!". Ninguém se preocupa em te analisar. Talvez por falta de tempo e, até mesmo, de vontade em saberem ou, talvez, pelo fato de você não aparentar ter um lado sombrio dentro de si.
Ninguém sabe o que se passa dentro de nós. Sempre fui dedicada, inteligente, responsável, carinhosa e sorridente, mas, por mais que tente esconder de todos, de mim não tenho como esconder meus próprios sentimentos e, uma hora, eles aparecem. Ao mesmo tempo que estou bem de verdade, sinto  uma coisa estranha, fria e escura dentro de mim. Sinto como se não estivesse realmente sendo eu, como se tudo o que faço e sou fosse uma espécie de personagem, criado por mim, para poder sobreviver.
Não me sinto entrosada em todos os lugares, pra falar a verdade, na maioria das vezes, me sinto perdida no meio disso tudo. Uma vez, meu pai perguntou "de que livro você saiu?", achei engraçado, mas gostei, para mim, é um elogio. Depois, uma amiga disse "você parece ser um personagem do Tim Burton", achei maravilhoso, afinal ele é meu cineasta preferido. Comecei a refletir sobre ambos os comentários e, por mais que eu tenha gostado, me pareceram formas de dizer que eu não pertenço ao meio no qual vivo. Talvez seja exatamente isso. Não sou psicóloga, mas acho que tenho tendência ao "complexo de Alice", não chega a ser o transtorno profundo, mas parte dele. Ironicamente, "Alice no País das Maravilhas" é um dos meus contos favoritos (se não for o favorito).
Já fiz análise! Antes que me perguntem. Recebi alta, mas não sei até que ponto deveria ter recebido, de verdade, essa liberação. Sou estável nas minhas atividades, mas meus sentimentos são como um vulcão prestes a entrar em erupção.
É notório quando estou bem e quando não estou, tudo interfere nas minhas roupas, nas músicas que ouço e se escrevo mais ou menos. Mas as pessoas parecem não se importar. Tenho um amigo que geralmente percebe minhas mudanças de humor (personalidade?), mas de quê adianta? O problema é mais comigo mesma do que com o resto da sociedade. A estranha sou eu, que não consigo me encaixar, por mais que pareça estar perfeitamente bem, que não consigo me sentir cem por cento feliz, nem quando sei que deveria estar. Por esse motivo estou sempre oscilando entre o colorido e o preto. A dor, as angústias, a melancolia, as dúvidas, as vontades reprimidas, tudo o que faz parte do meu cotidiano, me levam para uma parte de mim que as pessoas não conhecem. Uma parte obscura, sinistra e angustiante, mas que, sinceramente, às vezes me parece muito mais interessante do que todo o resto.


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